O QUE
DEUS QUER DA CIDADE EM TEMPOS TURBULENTOS
Paulo Gabriel Batista de Melo
Doutorando em Ciências da Educação e
teólogo
gabrielmelopaulo@gmail.com
AGRADECIMENTO
Quero agradecer imensamente a professora
Lydianne Machado do Colégio PH3, por suas sábias palavras em discutir com este pobre
servo de Jesus e me enriquecer com seus comentários nas muitas tardes que
falávamos sobre este tema riquíssimo, a grande missão e o grande desafio de
evangelizar as cidades, obrigado por seu amor e carinho.
Santo Agostinho na obra Confissões, que é uma autobiografia, fala da cidade de Deus e da cidade terrena, ou seja ele apresenta duas cidades: a de Deus como Ele quer e deseja que fosse a cidade num modelo de justiça e santidade e a cidade dos homens, terrena, cheia de corrupção, imoralidade e afronta a Deus, como vimos no carnaval do Rio de Janeiro, Deus na pessoa de seu Filho ser ridicularizado na avenida, uma semanas depois passávamos pela maior pandemia do século: o corona vírus, todo ato tem consequências nas duas cidades aqui e no céu.
Santo Agostinho na obra Confissões, que é uma autobiografia, fala da cidade de Deus e da cidade terrena, ou seja ele apresenta duas cidades: a de Deus como Ele quer e deseja que fosse a cidade num modelo de justiça e santidade e a cidade dos homens, terrena, cheia de corrupção, imoralidade e afronta a Deus, como vimos no carnaval do Rio de Janeiro, Deus na pessoa de seu Filho ser ridicularizado na avenida, uma semanas depois passávamos pela maior pandemia do século: o corona vírus, todo ato tem consequências nas duas cidades aqui e no céu.
O QUE
DEUS QUER DA CIDADE
“Que ela se converta de seus erros e ame a
Deus, cuide do pobre e lhe dê dignidade. Amar a Deus e ao próximo como a si
mesmo”.
Santa Dulce dos pobres é um grande exemplo de como devemos agir na cidade, olhando (VER), sentindo compaixão (SENTIR) e cuidando deles (CUIDAR), "Ele viu, sentiu compaixão e cuidou dele"
Desenho da campanha da fraternidade disponível no site da CNBB e no Google
O MAL ESTÁ
NA CIDADE E ELA PRECISA DE CURA
A cidade é fruto de desigualdade e miséria, de
corrupção moral e de toda sorte de males que aflige o ser humano, será que a
cidade é o modelo que Deus queria para nós? Vemos que muitas cidades são
assoladas com toda espécie de mal.
Por isso, o missionário de hoje, deve “sair de
seus palácios” (PP Francisco), e ir as periferias, pois é lá que está Jesus
abandonado sem comida, vivendo a dor e a violência das grandes cidades que não
“veem, não sentem compaixão e não cuidam”[1] de seu povo, é Jesus
abandonado novamente, impedido de nascer na cidade e vai para a periferia e
nasce em um curral.
Recentemente na cidade de Parnamirim-RN, em uma
visita da vara da família para destituir a guarda de uma criança de uma mãe por
haver sido denunciada de maus tratos, lá chegando a equipe técnica viu a
criança sendo amamentada por uma cachorra, a mãe pobre não tinha o que dar a
seu filho, isso certamente tem chegado aos céus, “eu ouvi o clamor de meu povo”
disse Deus a Moisés no Egito. Todas as dez pragas do Egito foram dirigidas as
cidades onde estavam o faraó e seus servos, os mais ricos de seu tempo.
Até mesmo quando estudamos a colonização da
América nos livros de Tzvetan Todorov[2] “A conquista da América”,
vemos que as capitais Astecas que hoje é a cidade do México, a capital dos
Maias na Guatemala, e a dos Incas no Peru, eram mais povoadas que as cidades
europeias, no entanto, todas elas deixaram de existir misteriosamente.
Não quero aqui como homem de Deus cometer o
pecado do julgamento das nações, mas antes refletir como crescem as cidades em
um modelo repetitivo e histórico, dialético e injusto, grandes nações europeias
foram construídas com base na exploração de países africanos e sulamericanos e
de outros continentes como os asiáticos em países como Índia e muitos outros,
eles se consideram de primeiro mundo, mas são paraísos fiscais de ladrões e
ditadores que roubaram muitos pobres, deixaram-nos miseráveis e guardaram suas
riquezas neste que se dizem de primeiro mundo, eu me recusaria a ser de
primeiro mundo se esta riqueza fosse fruto da miséria alheia, tudo isso não
agrada a Deus e trás graves consequências sociais e espirituais para o mundo.
Ser rico da miséria e opressão do povo foi o que fez forte todos os impérios
que ruíram na história da humanidade, esse é um modelo insustentável.
Muitos profetas pregaram contra esses Herodes
de hoje, como João Batista no deserto, como Naum que também aborda a questão da
corrupção e da violência contra os pobres em Nínive, somos hoje uma grande
Nínive globalizada, com excelência de recursos, ninguém passaria fome não fosse
a ganância de muitos, oitenta por cento da população brasileira ganha um
salário mínimo, juízes, parlamentares ganham auxílios que chegam a sete mil
reais ou mais e povo que mais precisa não tem auxilio algum, tudo para os reis
e nada para o povo, pão e circo para acalmar o povo, dizia meu avô “é com pão e
bolo que se engana os tolos”, como estava certo, um povo comprado com sua
própria miséria, não caia nessa meu irmão ajude o pobre, o cristão tem que ser
diferente. A Grécia caiu por sua arrogância e assim o foram, Egito, Babilônia,
Pérsia, Roma, Constantinopla, Jerusalém... a cidade que não se converter cairá.
“1Oráculo sobre Nínive. Livro da visão de Naum de Elcos.2O Senhor é um Deus zeloso e vingador, o Senhor é um vingador
irascível; o Senhor toma vingança de seus adversários e trata com rigor os seus
inimigos.3O Senhor é paciente e grande em poder, não
deixa impune o culpado”. Na 1, 1 – 3
Ainda se
refere o profeta as cidades:
“1Ai da cidade sanguinária, cheia de fraude e de violência, e
que não põe termo à sua rapinagem!2Ruído de chicote! Estrondo de rodas!
cavalos a relinchar, carros a dançar,3cavaleiros à brida, espadas que reluzem, lanças que cintilam,
multidão de feridos, mortos em massa, cadáveres sem número, nos quais se
tropeça...4Eis aí o fruto das numerosas fornicações
da meretriz tão cheia de encanto, hábil feiticeira, que enganava as nações com
seus atrativos, e os povos com seus sortilégios.5Eis que venho contra ti - oráculo do Senhor dos exércitos.
Vou arregaçar teu vestido até teu rosto, e mostrar tua nudez às nações, aos
reinos a tua vergonha.6Vou cobrir-te de imundícies para te
aviltar, e te exporei como espetáculo.7Todos os que te virem fugirão para longe de ti, dizendo:
Nínive está arruinada! Quem se apiedará de ti?”
A
ORIGEM DA CIDADE
9 “O senhor disse a Caim: “Onde está seu irmão Abel?" –
Caim respondeu: “Não sei! Sou porventura eu o guarda do meu irmão?”10O Senhor disse-lhe: “Que fizeste! Eis que a voz do sangue do
teu irmão clama por mim desde a terra.11De ora em diante, serás maldito e expulso da terra, que abriu
sua boca para beber de tua mão o sangue do teu irmão.12Quando a cultivares, ela te negará os seus frutos. E tu serás
peregrino e errante sobre a terra.”13Caim disse ao Senhor: “Meu castigo é grande demais para que
eu o possa suportar.14Eis que me expulsais agora deste lugar, e
eu devo ocultar-me longe de vossa face, tornando-me um peregrino errante sobre
a terra. O primeiro que me encontrar, matar-me-á.”15E o Senhor respondeu-lhe: “Não! Mas aquele que matar Caim
será punido sete vezes.” O Senhor pôs em Caim um sinal, para que, se alguém o
encontrasse, não o matasse.16Caim retirou-se da presença do Senhor, e
foi habitar na região de Nod, ao oriente do Éden.17Caim conheceu sua mulher. Ela concebeu e deu à luz Henoc. E
construiu uma cidade, à qual pôs o nome de seu filho Henoc”. Gn 4, 17
O
HOMEM CRIA A CIDADE E DESAGRADA DEUS
A cidade de Babel é mais um exemplo de como na
cidade o homem se afasta do projeto de Deus, daquele homem de vida simples que
vivia no campo, no paraíso criado por Deus sem necessitados entre eles. Para
impedir o projeto de grandes cidades Deus os divide em línguas para que se
disperssem.
4 “Depois disseram: “Vamos, façamos para nós uma cidade e uma
torre cujo cimo atinja os céus. Tornemos assim célebre o nosso nome, para que
não sejamos dispersos pela face de toda a terra.”5Mas o senhor desceu para ver a cidade e a torre que
construíram os filhos dos homens.6“Eis que são um só povo, disse ele, e
falam uma só língua: se começam assim, nada futuramente os impedirá de
executarem todos os seus empreendimentos.7Vamos: desçamos para lhes confundir a linguagem, de sorte que
já não se compreendam um ao outro.”8Foi dali que o Senhor os dispersou daquele lugar pela face de
toda a terra, e cessaram a construção da cidade”. Gn 11,4 - 8
DEUS
MANDA ABRAÃO SAIR DA CIDADE
1”O Senhor disse a Abrão: “Deixa tua terra, tua
família e a casa de teu pai e vai para a terra que eu te mostrar.2Farei de
ti uma grande nação;” Gn 12, 1
As três religiões monoteístas vem de Abraão,
com a escrava Agar ele teve Ismael que deu origem aos árabes que hoje são os
muçulmanos, com Sara ele tem o filho Isaac que deu origem aos judeus e bem mais
a frente Jesus funda o cristianismo (Mt 16, 13 – 20), logo de Abraão nasceria
as três maiores religiões monoteístas do planeta, e Deus não queria que elas
tivessem a origem na cidade, por isso, Ele manda que Abraão saia da cidade e vá
para uma terra que Ele vai mostrar, junto com ele vai seu primo Ló, que ao
chegar na terra não suporta e vai para cidade, lá certamente Ló vê a
desigualdade, a perversão moral comum nas grandes cidades e temente a Deus deve
ter vivido em agonia e súplicas, Deus destrói a cidade de Sodoma e Gomorra, mas
poupa a vida de ló e de sua família.
Por este motivo, não é eficaz ser missionário
em uma pequena aldeia da Amazônia ou da China, Deus quer pessoas construindo e
evangelizando a cidade, fruto de tanta desigualdade, é na cidade que devem
estar os missionários, façam a cidade prosperar e crescer o amor e a igualdade
fraterna de recurso para que crianças não sejam amamentadas por uma cachorra,
falei desse caso em uma homilia na cidade de Montevideo no período que passei
por lá, ao final as pessoas da igreja vinham falar comigo estavam
escandalizadas com esta situação, mas vi situações bem parecidas com estas lá
também. Aliás, vi estas situações no Chile, na Bolívia, no Paraguai, na
Colômbia e na Argentina.
O
CAMPO É ABENÇOADO, MAS A CIDADE PERECE EM MALDADE E CORRUPÇÃO
“Abrão fixou-se na terra de
Canaã, e Lot nas cidades da planície, onde levantou suas tendas até Sodoma”. Gn
13, 12
“Pois que
Abraão deve tornar-se uma nação grande e poderosa, e todos os povos da terra
serão benditos nele.19Eu o escolhi para que ele ordene aos seus
filhos e à sua casa depois dele, que guardem os caminhos do Senhor, praticando
a justiça e a retidão, para que o Senhor cumpra em seu favor as promessas que
lhe fez.”20O Senhor ajuntou: “É imenso o clamor que
se eleva de Sodoma e Gomorra, e o seu pecado é muito grande”. Gn 18, 18 - 20
“7 Enfim,
livrou o justo Lot, revoltado com a vida dissoluta daquela gente perversa8(esse justo que habitava no meio deles sentia cada dia
atormentada sua alma virtuosa, pelo que via e ouvia dos seus procedimentos
infames),9é porque o Senhor sabe livrar das
provações os homens piedosos e reservar os ímpios para serem castigados no dia
do juízo,10principalmente aqueles que correm com
desejos impuros atrás dos prazeres da carne e desprezam a autoridade”. 2Pd 2, 7
Poucas são as pessoas na Bíblia que são
consideradas justas aos olhos de Deus, o justo Ló, o justo José esposo de
Maria, o justo Noé que Deus salva das águas do dilúvio...
O
SERVIÇO MISSIONÁRIO NA CIDADE
A cidade de Nínive era a maior cidade do
planeta em seu tempo, vivia da guerra e de tomar as riquezas de povos vizinhos,
escravizando-os e roubando-lhes, ela era comparada a cidade de Constantinopla
que durante mil anos trinta e dois impérios tentaram tomar e somente após esse
período perdendo quase metade de seus soldados o império Otomano consegue
derrubar suas barreiras, Nínive era assim, grandiosa e por isso Deus que ama
seu povo manda o profeta que foge e volta para pregar a Palavra de Deus. O povo
se arrepende, faz jejum e orações e é salvo da destruição, mas Deus permitiu a
ruína de muitas cidades na história, se não há conversão haverá destruição,
assim foi com Enoque, Sodoma, Gomorra, Jerusalém...
A cidade é carente da caridade, em suas
periferias o ser humano criado a imagem de Deus padece todo tipo de agonia,
desprezo e maldade, autoridades que se esquecem de cuidar do povo em benefício
próprio, permitindo assim o crescimento do mal com suas gestões ineficientes e
fraudulentas, o homem é a fonte do mal, mas Deus sempre será a fonte da graça,
de sorte que este Deus ama seu povo e cumpre suas promessas o povo ainda pode
ter esperança.
Nas ruas de Parnamirim e Natal, sempre vejo
nossos irmãos venezuelanos com suas crianças a beira das calçadas com sede, sem
comida, e poucos, bem poucos lhe dão ao menos água para beber com seus filhos,
tenho que olhar para dentro de mim e me perguntar que tipo de ser humano nos
tornamos, que tipo de cristãos existem hoje que não se compadecem dos que
sofrem quando o Levítico diz “não maltrate o estrangeiro porque fostes
estrangeiro no Egito”, Jesus também foi estrangeiro no Egito, assim como seu
povo, somos todos estrangeiros e peregrinos neste mundo, não somos daqui, nossa
pátria definitiva é a cidade santa do Apocalípse, aqui somos estrangeiros em
busca da pátria celeste, é uma obrigação cristã cuidarmos uns dos outros, do
que tem um pouco mais ajudar ao que tem menos, incentivar o amor e não o ódio.
Os gestores e autoridades tem grandes contas a
acertar com Deus, visto que ‘quanto mais for dado, mais será cobrado’, e a
única forma de servir fielmente ao Senhor naquilo que ele nos confiou é
governar para os pobres, assim aconselha Daniel ao rei:
“Queiras então,
ó rei, aceitar meu conselho: resgata teu pecado pela justiça, e tuas
iniqüidades pela piedade para com os infelizes; talvez com isso haja um
prolongamento de tua prosperidade”. Dn 4, 24
O livro de Jó nos ensina que Deus em seu amor
vendo que o homem se afasta cada vez mais de seus propósitos pode permitir que
o mal nos aflija como ocorreu com Ló, embora muitos não mereçam, mas é uma
forma d’Ele nos alertar como alertou seu povo escolhido que estavam se
desviando do caminho da retidão, pois só há um caminho, como o próprio Jesus
disse “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”, o nosso desfio é fazermos o que
Jesus faria, e deixamos de lado nossas vontades particulares e nos moldarmos ao
projeto e a vontade de Deus, estamos em tempo quaresmal, de conversão, ao menos
reflitamos como tem sido nossa caminhada com Deus.
Deus manda avisos, profetas... mas nem sempre
estamos sensíveis ao que Deus quer e fazemos imperar nossa vontade como ocorreu
com Jonas que se recusava ir a Nínive para pregar, essa linda história que
tanto nos ensina o que pode se tornar a cidade ao se afastar dos caminhos do
Senhor, mal de toda cidade, por isso as cidades são as mais carentes de amor ao
próximo, e ai vemos belos exemplos de padres e pastores, de igrejas que lutam
nas periferias como a Santa Dulce dos pobres, Madre Tereza de Calcutá, São
Francisco... é preciso ter coragem para pregar aos pobres em meio a violência
das cidades tomadas pelo tráfico de drogas e prostituição.
O livro do profeta Jonas é curtinho, só tem
quatro capítulos, mas nos ensina de forma grandiosa o amor e o carinho que Deus
tem para salvar a cidade, leia numa tarde e reflita quão profundas palavras ele
traz em seus escritos.
“1A palavra do Senhor foi dirigida a Jonas,
filho de Amitai, nestes termos:2Levanta-te, vai a Nínive, a grande cidade, e profere contra ela
os teus oráculos, porque sua iniqüidade chegou até a minha presença.3Jonas pôs-se a caminho, mas na direção de Társis, para fugir
do Senhor”. Jn 1, 1s [grifo nosso]
Veja que
muitas vezes fugimos do trabalho do Senhor e de sua ceara, não queremos fazer
sua vontade, resistimos como servos aos seus mandamentos e suas ordens, temos
preguiça de trabalhar para Deus e ainda achamos pouco assistir uma missa ou um
culto, sem de verdade exercer o ministério da caridade, sem VER – SENTIR
COMPAIXÃO E CUIDAR de nossos irmãos que sofrem.
Jonas foge em
um navio a o mal cai sobre a tripulação, toda vez que nos recusamos a servir
algum mal poderá ocorrer a outros por nossa omissão, que aprendemos em nossa
catequese que também a omissão é uma forma de pecado.
“10Ficaram então aqueles homens possuídos de grande temor, e
disseram-lhe: Por que fizeste isto? Pois tinham compreendido, pela própria
declaração de Jonas, que este fugia para escapar à ordem do Senhor”. Jn 1, 10
Creio seria
interessante refletir todo capítulo 3 de Jonas para entendermos quão necessário
é evangelizar:
“1A palavra do Senhor foi dirigida pela segunda vez a Jonas
nestes termos:2Vai a Nínive, a grande cidade, e faze-lhe
conhecer a mensagem que te ordenei.3Jonas pôs-se a caminho e foi a Nínive, segundo a ordem do
Senhor. Nínive era, diante de Deus, uma
grande cidade: eram precisos três dias para percorrê-la.4Jonas foi pela cidade durante todo um dia, pregando: Daqui a
quarenta dias Nínive será destruída.5Os ninivitas creram (nessa mensagem) de Deus, e proclamaram
um jejum, vestindo-se de sacos desde o maior até o menor.6A notícia chegou ao conhecimento do rei de Nínive; ele
levantou-se do seu trono, tirou o manto, cobriu-se de saco e sentou-se sobre a
cinza.7Em seguida, foi publicado pela cidade, por
ordem do rei e dos príncipes, este decreto: Fica proibido aos homens e aos
animais, tanto do gado maior como do menor, comer o que quer que seja, assim
como pastar ou beber.8Homens e animais se cobrirão de sacos.
Todos clamem a Deus, em alta voz; deixe cada um o seu mau caminho e converta-se
da violência que há em suas mãos.9Quem sabe, Deus se arrependerá, acalmará o
ardor de sua cólera e deixará de nos perder!10Diante de uma tal atitude, vendo como renunciavam aos seus
maus caminhos, Deus arrependeu-se do mal que resolvera fazer-lhes, e não o
executou.” [grifo nosso]
Vemos assim que ao se converter Deus livra a
cidade da destruição, e isso se passa agora em 2020 com a praga do Corona
vírus, necessitamos refletir porque nos afastamos de Deus? Será que Deus tem
que permitir que o mal nos assole para entendermos sua vontade?
Deus nos ama tanta que tem compaixão quando o
mal nos bate a porta, mas somos cabeças duras, e insistimos em não fazer sua
vontade.
“11E então, não hei de ter compaixão da
grande cidade de Nínive, onde há mais de cento e vinte mil seres humanos, que
não sabem discernir entre a sua mão direita e a sua mão esquerda, e uma
inumerável multidão de animais?”.
Vemos que
ainda há salvação nos planos de Deus para as cidade, principalmente para as
grandes cidade, pois nestas maior é o clamor de seus filhos todos.
Em suas
meditações matutinas na Capela da Casa Santa Marta, o Papa Francisco nos
esclarece que a lógica de Deus é diferente da lógica dos homens, motivo pelo
qual Jonas resiste a vontade de Deus:
“O homem sente dificuldade para entrar na lógica de Deus e com
frequência aplica um conceito de «justiça» que ressente da sua «rigidez» e
«teimosia». Limitado como é ao pequeno horizonte do seu coração, não consegue
compreender o modo como «o Senhor age», a sua misericórdia infinita e a sua
vontade de perdão. Esclarece-o a história do profeta Jonas que o Papa Francisco
indicou para a reflexão durante a missa”.
Segundo Francisco, há um
diálogo neste livro que tem como norte « a misericórdia, a penitência, a
profecia e a teimosia». Vemos segundo o papa,
“ (Jonas 3,
1-10): «A palavra do Senhor foi dirigida pela segunda vez a Jonas nestes termos:
“Vai a Nínive, a grande cidade, e faz-lhe conhecer a mensagem que te ordenei”».
Desta vez o profeta «obedeceu». E, observou o Papa, «vê-se que pregava bem
porque os moradores de Nínive sentiram medo, muito medo e converteram-se».
Graças ao seu pronunciamento, explicou, «a força da palavra de Deus chegou ao
coração deles» e não obstante fosse uma «cidade muito pecadora», os seus
habitantes mudaram de vida, «rezaram, jejuaram». Então «Deus viu as suas obras,
isto é, que se tinham convertido da sua conduta malvada, e reconsiderou o
castigo que tinha ameaçado de lhes infligir e não o fez»”.
O que podemos concluir deste episódio em Nínive
é que não é Deus quem muda, quem muda são os ninivitas que se arrependem de
suas vidas desordenadas, pois como nos diz Santo Agostinho ao refletir as obras
de Aristóteles é que Deus é Imutável (não muda) e é o movente (que tudo move),
logo tem a eternidade para nos direcionar pelos caminhos corretos.
Amo as reflexões tão atuais do nosso bondoso
Francisco, que faz jus ao seu nome pontifício, o irmão dos pobres, endurecemos
o coração como o faraó no Egito, e toda vez que o nosso coração endurece as
pragas aparecem, eia a razão da peste que já matou milhares e matará ainda
mais, muitos sacerdotes morreram em Roma esta semana, mas Deus permitiu que
Jerusalém fosse destruída, por que pouparia Roma, ele está levando os seus,
poupando-os da dor deste mundo que se afasta constantemente de Deus, agora
estamos de quarentena, na quaresma, tempo propício para isso, será que somente
assim os pais terão tempo para brincar com seus filhos? Será que somente assim
teremos tempo nessa correria louca que o mundo se tornou, agora teremos tempo
para olhar Deus e pedir perdão pela nossa ausência e omissão:
“Eis então que a
Escritura fala também ao homem de hoje. Explicou Francisco: «Os teimosos de
alma, os rígidos, não compreendem o que é a misericórdia de Deus. São como Jonas:
“Devemos pregar isto, que sejam punidos porque praticaram o mal e devem ir para
o inferno”». Ou seja, os rígidos «não sabem alargar o coração como o Senhor.
Eles são pusilânimes, com o pequeno coração fechado, apegados unicamente à
justiça». Sobretudo, acrescentou, os rígidos «esquecem-se que a justiça de Deus
se fez carne no seu Filho, se fez misericórdia, se fez perdão; que o coração de
Deus está sempre aberto ao perdão. E mais, esquecem-se o que rezamos na semana
passada na oração da coleta: esquecem-se que Deus, a sua omnipotência, se
manifesta sobretudo na misericórdia e no perdão».”
Conclui o Papa nesta homilia diária que Deus
tem muita paciência para que voltemos ao caminhar correto, da vida virtuosa e
fraterna como nos ensina Jesus no Pai-Nosso:
“A Jonas —
«teimoso, pusilânime, rígido», que «não compreendeu a misericórdia de Deus» — o
Senhor «poderia ter dito: “Desenrasca-te com a tua rigidez e com a tua
teimosia”». Mas ao contrário «o próprio Deus que quis salvar aquelas cento e
vinte mil pessoas, foi ter com ele para lhe falar, para o convencer». Porque é
«o Deus da paciência, é o Deus que sabe acariciar, que sabe alargar os
corações». Eis, portanto, «a mensagem deste livro profético»: com o seu
«diálogo entre a profecia, a penitência, a misericórdia e a pusilanimidade ou a
teimosia», diz-nos que «sempre vence a misericórdia de Deus», porque «a sua
omnipotência se manifesta precisamente na misericórdia». E o Pontífice concluiu
a homilia aconselhando «a pegar na Bíblia e ler este livro de Jonas — é
pequenino, são três páginas — e ver como o Senhor age, como é a misericórdia do
Senhor, como Ele transforma os nossos corações. E demos graças ao Senhor porque
Ele é tão misericordioso»”.
A ORDEM DE DEUS É TRABALHARMOS AONDE
DEUS NO COLOCOU
Vemos na
passagem de Jeremias também comentada pelo profeta Daniel que aonde Deus nos
coloca Ele quer ver a prosperidade da cidade, assim foi com José no Egito,
vendido como escravo por seus irmãos, ele fez Putifar prosperar, fez o faraó prosperar
até se tornar vice-rei do Egito, o mesmo aconteceu com Daniel, se não
trabalhamos no sentido da cidade prosperar, do país prosperar, não estamos
cumprindo os desígnios de Deus.
“7Tomai a peito o bem da cidade para onde vos exilei e rogai por ela
ao Senhor, porque só tereis que lucrar com a sua prosperidade”. Jr 29, 7
Assim como
José, Daniel não conspirou para que o rei Nabucodonosor fracassasse, ele ajudou
o reino a prosperar, pois esta é a vontade de Deus, onde Ele nos colocou temos
que ajudar na prosperidade de todo o povo.
“O rei deu
ordem ao chefe de seus eunucos, Asfenez, para trazer-lhe jovens israelitas,
oriundos de raça real ou de família nobre,4isentos de qualquer tara
corporal, bem proporcionados, dotados de toda espécie de boas qualidades,
instruídos, inteligentes, aptos a ingressarem (nos serviços do) palácio real;
ser-lhes-ia ensinado a escrever e a falar a língua dos caldeus.5O rei destinou-lhes uma
provisão cotidiana, retirada das iguarias da mesa real e do vinho que ele
bebia. Dn 1, 3 - 5
A
TENDÊNCIAS DAS CIDADES É CRECER SEM PARAR E SEM ESTRUTURA PARA ATENDER A TODOS
OS SEUS HABITANTES
As cidades crescem, e juntamente com elas
crescem também a violência, a pobreza, o desprezo pelos humildes, a ganância e
a opressão do povo pobre, aqueles que são os prediletos de Jesus e abandonados
por nós.
Esse modelo de governo das cidades tem gerado
muita desigualdade social, lembro que quando nada havia para mim na minha
cidade, como descendente indígena e pobre resolvi ainda menor de idade ir para
capital do meu estado, Recife e lá era tamanha a desigualdade, muito maior que
no meu interior, e como todo índio de interior que vai para cidade meu destino
foi a rua, ainda que por pouco tempo, as cidades não acolhem o pobre, os
maltrata, os humilha... é degradante essa postura da cidade, solitários na
multidão, bem diferente do interior que todos se conhecem, fui pagar o pão na
padaria de minha cidade ela não tinha troco e me perguntou de “quem você é
filho”, eu respondi de D. Terezinha professora do SESI, ela me disse depois
você paga, isso não acontece na cidade grande, ninguém confia em ninguém, é um
caos. Por isso, Jesus questiona o governante que não cuida de seu povo e da
cidade que destrói o pequeno:
“22Sempre em caminho para Jerusalém, Jesus ia atravessando cidades e
aldeias e nelas ensinava”. Lc 13, 22
A preocupação
de Jesus era com a cidade, pois é lá que estão as maiores necessidades e os
mais necessitados, mas alerta os governos:
“31No mesmo dia chegaram
alguns dos fariseus, dizendo a Jesus: Sai e vai-te daqui, porque Herodes te
quer matar.32Disse-lhes ele: Ide
dizer a essa raposa: eis que expulso demônios e faço curas hoje e amanhã; e ao
terceiro dia terminarei a minha vida.33É necessário, todavia,
que eu caminhe hoje, amanhã e depois de amanhã, porque não é admissível que um
profeta morra fora de Jerusalém.34Jerusalém, Jerusalém,
que matas os profetas e apedrejas os enviados de Deus, quantas vezes quis ajuntar os teus
filhos, como a galinha abriga a sua ninhada debaixo das asas, mas não o
quiseste!” Lc 13, 31 – 34 [grifo nosso]
JESUS É
SEMPRE MAIS REJEITADO NAS CIDADES E NELA ELE MORRE
Ao ver a humildade do povo do interior e sua
linda fé, percebo que mesmo não tendo os recursos da cidade esse povo simples
tem uma fé gigante, lembro a minha pobre vó, quantos ricos não iam a sua casa
no sítio pedir-lhe que rezasse pelos filhos, genros, noras e tantas pessoas que
moravam na cidade.
Ao nascer, Jesus é rejeitado na cidade e seus
pais são obrigados a se dirigir a periferia, Ele nasce em uma manjedoura, um
curral dos animais de algum morador da cidade, é aquecido nas noites frias
pelos animais, há muitos Jesus nas cidades debaixo de pontes e viadutos, fruto
da opressão e da ganância do homem que rejeita seu irmão, e que o obriga a ser
pobre e sem dignidade.
Só nos resta amados irmãos e irmãs a conversão
verdadeira, dos “verdadeiros adoradores em espírito”, que veem, são comovidos
por compaixão, e cuidam dos pequenos de Jesus. Crendo ou não todos estarão no
tribunal do juízo, prestaremos contas de nossas atitudes e a única coisa que
nos ajudará será o quanto fomos movidos pelo amor e pela caridade.
Neste momento em estou a escrever este artigo,
recebi uma notícia triste que deixou a nós católicos de luto, mas com esperança
em Jesus que Ele vai sarar o planeta, a notícia de que vinte e dois padres da
Itália, morreram pelo Corona Vírus: que o bom Deus os receba como sacrifício
por nós pecadores.
Que o bom Deus se compadeça de seu povo, ajude
e motive os missionários da cidade a evangelizar e nos mostre o caminho da paz.
Jesus nosso Deus amado nos lembra sempre que
estamos em provação constante, teremos aflições nessa vida, mas não podemos
deixar de ter esperança n’Ele que tudo vê, Deus sabe de todas as coisas e nos
anima a continuar nossa jornada
“Referi-vos
essas coisas para que tenhais a paz em mim. No mundo haveis de ter aflições.
Coragem! Eu venci o mundo”. Jo 16, 33
“Eles
ficam doentes e morrem como os outros, juntamente com os outros... Os padres
sempre estiveram no meio das pessoas... É inevitável encontrá-los também na
lista de vítimas colhidas por essa epidemia assustadora. Em algumas dioceses do
norte da Itália os números são impressionantes. Até ontem, 17 de março de 2020,
eram esses os sacerdotes que partiram para o Pai. Muitos eram capelãos em
hospitais ou párocos nas áreas mais infectadas. O mais novo tinha 55 anos e o
mais idoso 104. Tenhamos presente seus nomes em nossas orações:
Diocese de Bergamo: Remo Luiselli,
Gaetano Burini, Umberto Tombini, Giuseppe Berardelli, Giancarlo Nava, Silvano
Sirtoli, Tarcisio Casali, Achille Belotti, Mariano Carrara, Tarcisio Ferrari.
Diocese de Parma: Giorgio Bocchi,
Pietro Montali, Andrea Andrea Avanzini, Franco Minardi, Fermo Fanfoni.
Diocese de
Piacenza-Bobbio:
Giorgio Bosini, Mario Boselli, Giovanni Boselli, Giovanni Cordani.
Diocese de Cremona: Vincenzo Rini, Mario
Cavalleri.
Diocese de Piemonte: Mario Defechi,
Giacomo Buscaglia.
Diocese de Milão: Marco Barbetta, Luigi
Giussani.
Diocese de Lodi: Carlo Patti.
Diocese de Brescia: Giovanni Girelli”.
Fonte:
Jornal “Avvenire”, da Conferência Episcopal Italiana (18/03/2020)
O número não para de crescer, observei agora no site do professor Felipe Aquino que o número subiu para 28 padres morto, nessa sexta dia 20 de março:
"Segundo o site ACI, as dioceses italianas informaram a morte de pelo menos 28 sacerdotes devido ao coronavírus COVID-19, enquanto outros dois morreram por outros motivos, com os quais o número de presbíteros mortos é de pelo menos 30 nos últimos dias."
O número não para de crescer, observei agora no site do professor Felipe Aquino que o número subiu para 28 padres morto, nessa sexta dia 20 de março:
"Segundo o site ACI, as dioceses italianas informaram a morte de pelo menos 28 sacerdotes devido ao coronavírus COVID-19, enquanto outros dois morreram por outros motivos, com os quais o número de presbíteros mortos é de pelo menos 30 nos últimos dias."
Vivendo esta epidemia do corona vírus, Deus nos
permite repensar nosso modelo em todas as áreas, o tempo que não tínhamos para
nossas famílias agora estamos tendo, o tempo que não dávamos a Deus agora
reaprendemos a rezar e a nos aproximar d’Ele mesmo que seja em casa pela
televisão ou pela internet, não consigo imaginar a dor dos nossos irmão
italianos, com milhares de mortos, com caminhões do Exército transportando os
corpos para cremação, dos inúmeros alertas nas redes sociais como este:
Resumo do Coronavirus:
1) 👴🏻Idoso= Isolamento
2) 📝Escolas= Fechadas
3) 😷Máscaras= Profissionais da Saúde e pessoas
com outras doenças
4) 🧫Teste= Só em caso suspeito,
sintomático e fazer em casa
5) 🏥Hospital= Só suspeita + Febre alta + Falta
de ar
6) 🚗Viajante de qualquer lugar= Isolamento 7
dias
7) ✈Viajante de lugar epidêmico= 14 dias
8) 👯🏻♂Eventos= Não!
9) 🤧Gripados= não visitar idoso
10) 💉 Tomar vacinas de Influenza e Anti
pneumocócica (se indicado)
11) 👨👩👧👧Sem aglomerações (restaurantes, cinema,
transporte público etc)
12)🧴Lavar mãos com sabão/sabonete e
álcool gel
13)🚪Álcool gel quando usar maçanetas,
corrimão, apoiadores, transporte público, etc.
14) 🤤Ao tossir, cotovelo na frente da
boca
15) 🤒Síndrome gripal sem gravidade: permanecer em casa, tomar
analgésicos e/ou anti-térmico (Dipirona)
16)🍶Hidratação e boa alimentação.
Qual foi a última vez que o mundo parou dessa
forma, somente na segunda guerra e não havia recolhimento em larga escala como
agora, em todos os países com as pessoas em suas casas confinadas e com medo. O
medo não vem de Deus, d’Ele vem a força e a fé, a esperança para olharmos e
vermos que somos todos iguais, que morrem ricos e pobres da mesma forma, diante
de Deus somos todos iguais.
QUE O BOM DEUS SARE NOSSA TERRA E NOS DÊ A PAZ.
REFERÊNCIAS
Medina, José Mário Veja. Vá para a cidade:
missão urbana está no coração de Deus. Curitiba: MIC ,2019.
Jornal
L'Osservatore Romano, ed. em
português, n. 43 de 26 de outubro de 2017. Jonas o teimoso, MEDITAÇÕES
MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA.
Disponível em http://www.vatican.va/content/francesco/pt/cotidie/2017/documents/papa-francesco-cotidie_20171010_jonas-teimoso.html, acesso em 18 de março de 2020.
Todorov ,
Tzvetan. A conquista da américa: a questão do outro. 4ª Ed. São Paulo: WMF
Editora, 2010.