O
QUE VEM A SER A HISTÓRIA ORAL
FICHAMENTO
Paulo Gabriel
Referência:
MENEZES,
Marilda Aparecida. Historia Oral: Uma metodologia para o estudo da memória. In:
Revista vivência: Memória. Natal: EDUFRN, 2004 (P.20 a 36).
História Oral: uma
metodologia para o estudo da memória
RESUMO
O artigo tem como objetivo tratar de forma breve da
construção da metodologia de história oral desde a década de 1960 no campo da
ciências humanas. No Brasil, seu bom acontece na década de 1990, o que se deve
a sua expansão e articulação na academia, com um crescente número de encontros
promovidos a partir da criação da associação brasileira de historia oral. Os
trabalhos baseados nos relatos orais tentem incorporar as vantagem da subjetividade dos documentos bem como das
relação de subjetividade entre o pesquisador o informante. Após a revisão de
tais paradigmas, não apenas pela história oral, mas, também, por outro lado
perspectivas teóricometodólogicas que questionavam os pressupostos positivistas,
os historiadores orais alargaram seu campo de discussão, resgatando, entre
objetos de estudo, a relação entre outros objetos de estudo, a relação entre
memória e identidades. (P.23 )
ORIGEM E EXPANSÃO DA
HISTÓRIA ORAL
Ao logo dos séculos, a
história oral se constituiu como a maior fonte humana de produção, conservação
e difusão do conhecimento. Muitos estudiosos buscam na Grécia antiga as suas
origem, apresentando Heródoto como o pai da história oral (trebstsch. 1994), pois
seus estudos eram realizados com a observação direta e o registro dos testemunhos daquelas que lhe eram
contemporânea além dele houve tucidides e polibio que também incorpora fontes
orais. No século xIx com o paradigma positivista na história, a oralidade passa
a uma posição inferioridade e perde sua legitimidade. Nos temos de Trebisch
(1994,p.26) busca ``tornar-se uma frente historiográfica pioneira``. Deste modo
a bandeira positivista da objetividade não é hasteada ou defendida, mas contra
a ficção da objetividade defende-se uma ciência engajada. O chamado método rankeano
de base quantitativa era predominante nas pesquisa históricas, apenas usava-se
a história oral em auxilio dos dados escritos ou documentais. Ferreira pontua com
propriedade que a expansão da história oral situa-se em um contexto de mudança teórico-metodológico
da história, de perspectivas estruturalista para outras voltadas para a análise
do cotidiano, das mentalidades, da micro-história que beneficiam-se de
documentos como as história de vida biográficas,cartas pessoas, fotografias, etc.
(p.24)
Nos estados unidos da
America, a História oral teve sua origem datada em 1948, embora só em 1964
tenha passado por um momento de extensa produção e criação. De um número de
oitenta centros no ano de 1961, irá atingir quase 300 departamentos em 1965. O
clima contestador e revolucionário da década de 60 contribuiu para o uso
freqüente da história oral. A América não estava resumida apenas á guerra do
Vietnã, paralelamente ao nacionalismo de muitos americanos. Uma outra America
surgia, revelada através do movimento negro, feministas, das minorias étnicas,
dos imigrantes latinos e daquelas taxadas de ``delinqüente´´, que também eram
possuidores de um nacionalismo, porém, marcado por uma visão idealista e
existencialista. Cientista políticos e historiadores pretenderam ´´dar voz´´ ás
minorias, construindo,assim, a chamada história ´´vista de baixo´´ - dos
humildes e dos sem história. Ela ´´tira do esquecimento aquilo que a história
oficial sepulto.´´ Dos Estados unidos na década de 60, a história oral se
expende em direção á Europa, especificamente a Grã-Bretanha. Diferentemente do
contexto americano, no qual os primeiros trabalhadores tiveram uma preocupação
em preservar a memória das elites, no caso britânica, os estudos eram mais
voltados ás camadas populares. A legitimação da história oral na academia
britânica dar-se-á por volta do inicio da década de 70 com a inauguração do
department of sound Record em Londres e também a criação da instituição oral
history society em 1973.Além da grã- Bretanha, países como a Itália, a Alemanha
e a França também testemunham a presença cada vez mais freqüente da história
oral em suas academias.(p.25 ).
Política
e militante em decorrência do luto nazista e fascista. Na Alemanha, no final da
década de 70, é desenvolvido um trabalho de pesquisas sobre a memória da guerra
e do nazismos a partir das percepções da classe operaria sobre este período.No
caso do brasileiro, a história oral segue mais o menos as trilhas dos europeus
e dos norte-americanos. O desenvolvimento da história oral no Brasil data de
1970. Em 1974 é criado o grupo de documentação em Ciências sócias (GDCS). A
idéia era criar arquivos na área de ciências sócias, com o objetivo de
contribuir para a preservação de documentos necessários aos estudiosos das ciências
sócias no Brasil. Aparte dos anos 90, a história oral ascende com força
suficiente para ser reconhecida, nacional internacional. No Brasil, seu bom
acontece na década 1990, o que se deve a uma articulação da academia com um
crescente numero de encontros promovidos, pautados na criação da associação
brasileira. Quando de sua emergência neste pais, por volta de 1975, a história
oral estava voltada para professores e pesquisadores de história e ciência
social e depois difundida para outros grupos e organizações.o marketing tem
utilizado a metodologia da história oral para registrar trajetória de empresas,
que contratam os serviços de pesquisadores, dando preferência aos que são
vinculados á academia para obter maior legitimidade.(p.26).
Apesar
de sua expansão e consolidação, a história oral tem sido alvo a sua de diversas
criticas, principalmente de historiadores que utilizam apenas as fontes
escritas como documentos na história. Uma das criticas das criticas é quanto á
legitimidade dos documentos oral devido a influência da subjetividade dos
informantes. No entanto; os documentos escritos também não garante o registro
objetivo do fato, mas antes, expressa uma interpretação marcada pelo o ponto de
vista de seu escritor, bem como dos interesses e intenção dos envolvidos no
documento. O desenvolvimento de analises de caráter metodológica, no entanto,
não significa um rompimento com a perspectiva militante. Ao contrario, nos
países do leste europeu, logo após a guerra do comunismo, a história oral
surgiu como u recuso libertado para povos que permaneceram em silencio por meio
século. (p.27).
HISTÓRIA
ORAL: Metodologia ou técnica
A
história oral foi intensamente debatida, teve sua ´´identidade´´ questionada ao
se interroga se ela constituiria uma disciplina,método ou técnico de obtenção
de informações.Queiroz (1998) apresenta a história oral enquanto ´´técnica por
excelência´´ na coleta de matérias pelos cientistas sociais, já que assegura a
vivacidade dos fatos e se opõe ás técnicas quantitativas, na década de 40
afuscou o crescimento dos relatos orais, mas o avanço técnicas dos anos 50.já
Trebitsch (1994,p.25) acredita que a história oral se constitui como uma
metodologia que privilegio certos objetos como grupos excluídos,minorais, ou os
que foram silenciados pelo história oficial; o método da pesquisa de campo e observação
participante,o que aproxima da antropologia e uma abertura interdisciplinar
para as demais ciência sócias. Partilhando da perspectivas de TREBITSCH e
adotamos aqui a compreensão de que a história oral é uma metodologia e não uma
técnica de pesquisa. Como bem define Lang; Neste sentido não utilizamos como um
instrumento de obtenção de ´´dados´´,conteúdo, mas consideramos importante
levar em conta as interações sócias no processo de entrevista, as diferenças
das narrativas pela posição de classe e gênero ,bem como as relações entre
memória e identidade. Este modo de concede as entrevista encontra respaldo em
alguns autores, tais como BOURDIEU (1999) e THOMSON (2000). Para BOURDIEU,
qualquer referência a procedimentos de pesquisa não esgota as estratégias
infinitas da prática de pesquisa. (p.28).
O
que se pretende com a história oral aproxima-se bastante da perspectiva de
Geertz com a proposta de "descrição densa", que busca não uma
interpretação da fala do nativo e sim uma aproximação de seu ponto de vista.
Para Geertz, através do estudo na aldeia, o antropólogo procuraria construir
pontes para conciliar a sua subjetividade e a do informante [...] Os trabalhos
baseados em relatos orais tentam incorporar as vantagens da subjetividade dos
documentos. Ao se incorporar as relações de subjetividade entre o pesquisador e
o informante, questiona-se o pressuposto da verdade histórica. (p. 29)
História
oral na origem, ela foi associada ao estudo das minorias, dos marginalizados,
atualmente, incorporou no seu campo um debate teórico-metodológico profícuo. O
reconhecimento e adesão por um considerável número de pesquisadores de
diferentes disciplinas demonstra o seu êxito[...] disciplinas como história,
sociologia, antropologia, linguística, literatura e psicologia. (p. 30)
Vários
pesquisadores chamam atenção para a necessidade de não perder de vista o
compromisso político com os grupos sociais oprimidos e com pouco direito a voz,
o que constituía um dos princípios originais dos pesquisadores, lideranças de
movimentos sociais que utilizaram esta metodologia. (p. 30)
O registro escrito da
história de vidas de grupos sociais considerados "sem voz" era
concebido como uma ferramenta política, sendo o conhecimento do passado
fundamental para a preparação da luta futura e para a compreensão global de sua
realidade. (p. 30)
As narrativas dos migrantes
não constituem a versão original, mas como diz Gertz são de segunda mão e as
interpretações do pesquisador são de terceira mão. (p. 30)
A resposta para esta questão
não se resolve em um debate teórico. mas na prática de pesquisa [...] tanto na
produção dos documentos quanto de sua análise e na construção do texto do
pesquisador. O compromisso político pode estar inclusive nas estratégias de
comunicação e interação social estabelecidas entre o pesquisador e os
informantes no sentido de questionar hierarquias entre sujeitos envolvidos. (p.
31)
A história oral e o estudo
da memória
Paradigmas científicos
outrora inquestionáveis passaram a ser questionados [...] "a projeção no
passado dos desejos do tempo presente é a técnica mais corrente e mais cômoda
para criar uma história própria para fazer as necessidades coletivas de
comunidades que estão longe de ser exclusivamente nacionais" (FERREIRA,
1996 p, 19). (p. 31)
O congresso internacional de
história oral realizado no Rio de Janeiro em 1998, elegeu cinco desafios à
história oral no século XXI. O primeiro foi vencido quando o debate sobre o
tema saiu da Europa e fez presente no Brasil [...] O segundo é o de "se
manter fiel à sua inspiração inicial" [...] O terceiro está ligado à
ambiguidade do termo história oral [...] O quarto ele defende o seu uso, desde
que o pesquisador esteja em estado de vigília, pois o sem número de inventos
tecnológicos pode ampliar o número de documentos orais [...] o último desafio é
a íntima ligação entre identidade e memória (p. 32)
Os estudos acerca da Memória
nos remetem as pesquisas de Halbwachs que entende a memória como resultado da
interação social, por isso, ele estuda a partir dos quadros sociais da memória
[...] a memória individual sempre está relacionada à memória do grupo [...] Os
elementos constitutivos da memória são tomados de situações compartilhadas pelo
grupo ao qual o indivíduo pertence (p. 32)
Halbwachs [...] considera
que a menor alteração do ambiente atinge a qualidade da memória e amarra a
memória da pessoa à do grupo e a linguagem é o instrumento decisivamente
socializador da memória. (p. 32)
Michael Pollack [...]
compreende a memória como um campo de forças e sua história diversa e
conflituosa. Enquanto Halbwachs nos fala de uma negociação entre memória
coletiva e individual, Michael Pollack percebe o caráter destruidor, uniformizador
e opressor da memória coletiva e nacional[...] nestes momentos de conflitos, há
a irrupção de ressentimentos e uma memória da dominação e de sentimentos
"censurados" para a exposição pública [...] a perspectiva
teórico-metodológica de Pollack reabilita a periferia e o que é marginal na
história oficial, assim, não adere à visão de dominação exclusiva de um sobre o
outro, no campo da memória, mas a possibilidade de resistências constantes em
um campo de forças materiais e simbólicas. (p. 32)
O trabalho de memória e
evocação do passado, ela tem a capacidade de reter e guardar o tempo que se
foi, salvando-o da perda total, porque o ato de lembrar conserva o que se foi e
não retornará jamais. E isto se constitui como uma garantia da nossa própria
identidade. (p. 33)
PAULO GABRIEL
TEÓLOGO
PEDADAGOGO
PSICOPEDAGOGO
GRADUANDO EM HISTÓRIA E
MESTRANDO EM EDUCAÇÃO