SOBREVIVÊNCIA NO
GELO - A CORDILHEIRA ANDINA
Muitas são as áreas geladas do planeta, em todo continente que passamos é possível encontrar montanhas geladas, em um segundo se está voando com glamour e noutro percebe-se a iminência de uma sobrevivência. (sgt Fábio ao ter uma forte turbulência nas cordilheiras nu avião comercial)
INTRODUÇÃO
Como
podemos ver no filme “Sol da meia noite”, o sol durante meses desaparece atrás
da linha do horizonte aumentando a intensidade de luz sobre a retina e causando
inflamações, sendo menos graves do que o inverno, quando ele nunca aparece, e
os fatores como : hipotermia, congelamento e outros serão muito agravados, como
foi constatado por inúmeras expedições algumas delas ocorreram em uma época que
não havia a tecnologia a favor do homem, transformando-a em um fato heróico.
Nas
calotas polares da Antártida e do Ártico, ou em qualquer outra região gelada
como Sibéria ou os Andes no Chile, o homem sente-se frágil e pequeno e se este
for oriundo de um acidente aéreo, ainda sentirá que é o mais azarado. Em
momentos, tudo pode se transformar num inferno branco de ventos furiosos,
avalanches que chegam a soterrar até cem metros e em alta velocidade, não dando
tempo para reagir; horas depois, pode-se sentir em pleno paraíso, cercado de
animais.
O
gelo e o frio foram os principais fatores que fizeram do Ártico e da Antártida,
as últimas regiões exploradas pelo homem. A descoberta e a colonização das
áreas geladas são ainda hoje, desafios a sobrevivência humana, apesar das bases
de diversos países com interesse científico nos pólos, como é o caso da estação
Comandante Ferraz (mantida pelo Brasil na Antártida) que cientificamente muito
tem contribuído para o desenvolvimento de uma nova tecnologia onde sobreviver é
possível.
Temperaturas muito baixas, escassez
de alimento e, principalmente, a ação dos ventos, fazem com que o homem, caso não conheça algumas noções
básicas de sobrevivência, tenha uma sobrevida muito pequena; para se ter uma
idéia do perigo dos ventos uma pessoa bem agasalhada a –29°C, corre poucos
riscos, mas acrescente um vento de 40 km/h e teremos uma temperatura relativa
de –66°C fazendo congelar partes expostas em menos de trinta segundos. Os
heróis mundiais do gelo são relatados nos livros de Amyr Klink, e concordo
plenamente com ele, são Amundsen que ganhou até um nome de mar (mar de Amundsen
) e o capitão Shackeleton, que possui em seu acervo a mais fantástica história
de resgate em ambientes gelados, e o britânico Roberto Falcon Scott que apesar
de não obter tanto êxito entra como um dos desbravadores do gelo pela sua
coragem.
ORIENTAÇÕES
BÁSICAS
A
maior quantidade possível de roupas deve ser mantida, para evitar a hipotermia.
A manutenção da temperatura do corpo é um dos maiores segredos para o êxito
numa sobrevivência no gelo. As extremidades dos pés, mãos, orelhas, cabeça,
nariz, mucosas e face devem ser muito bem protegidas ou poderão necrosar.
Um
pouso em regiões geladas pode acontecer sobre uma camada espessa de gelo
continental, suficientemente forte para suportar o peso da aeronave (ICE-SHELF)
ou sobre uma camada de gelo mais fina, que se forma sobre o mar e cuja
resistência é limitada (PACK-ICE), esta camada se quebra pela ação de ventos e
marés, ou ainda, pelos navios quebra-gelo, dificultando ainda mais a situação.
AÇÕES IMEDIATAS:
As
ações imediatas, são idênticas em qualquer sobrevivência de solo, primeiro
afastar da aeronave e esperar dez minutos levando consigo o máximo de pessoas,
pois segundo as normas vigentes o tempo ideal de evacuação são de noventa
segundos, depois deve-se efetuar a prestação de socorro as vítimas, e o
acionamento do radiofarol de emergência. Importante lembrar que os glânulos de
silica-gel devem ser utilizados na sua finalidade anti-congelante para o acionamento
do radiofarol de emergência (Beacon) modelo RESCUE 99 ou outro similar, visto
que a maioria dos rádios são ativados com líquidos, no gelo ele logo pararia de
funcionar pois o líquido congelaria, não fosse a ação anti-congelante da sílica
gel, lembrem-se que o rádio de emergência é o passaporte para voltar a
civilização, toda prioridade deve ser dada para este equipamento devido a sua
importância para encontrar e resgatar os
sobreviventes.
AÇÕES SUBSEQUENTES:
Deve-se
providenciar abrigo imediatamente após o acionamento dos radiofaróis de
emergência, pois, inclusive a eficiência na prestação de primeiros socorros
poderá depender deste fator. Seria muito difícil sobreviver no gelo sem abrigo
e calor; o ser humano resistiria poucas horas, somente. Por isso, tão logo
quanto possível, um tripulante deverá coordenar a construção de um abrigo e no
seu interior acender um foco de fogo com uma pequena abertura para permitir a
troca dos gases venenosos da queima.
ABRIGOS
Deve-se avaliar a área ao redor da aeronave para determinar
o local mais adequado a construção do abrigo, considerando a disponibilidade de
água e alimento. O interior da aeronave não deverá ser utilizado como
abrigo, as superfícies metálicas são excelentes condutoras e um simples toque
com as mãos sem proteção faria com que ficasse grudada e ao tentar tira-la pedaços de pele ficariam presas no metal.
Entretanto no interior as forrações
poderão ser utilizados para a confecção de um abrigo.
Deve-se
ter cuidado especial ao manusear partes metálicas da aeronave que não estejam pintadas, porque em
contato direto com a pele, poderão causar lesões irreversíveis, serão como
lâminas cortantes.
Escorregadeiras e barcos salva-vidas
também poderão servir como abrigos, desde que devidamente fixados sobre o gelo.
É importante ter certeza que o abrigo será construído
sobre blocos de gelos sólidos, distante de fendas ou mar aberto.
Dentre os diversos tipos de abrigo
que podem ser construídos, a unidade de sobrevivência no gelo da Suécia,
esquadrão especializado em sobrevivência
nos ambientes gelados indicam dentre eles:
TRINCHEIRA
Pode
ser construída rapidamente e proporciona uma proteção eficiente devendo-se
cuidar para que a entrada não se localize na mesma direção do vento. Para a
cobertura da trincheira pode-se utilizar toldos, escorregadeiras pedaços de
fuselagem ou blocos de neve formando um V invertido, a maior finalidade da trincheira é evitar o contato dos
sobreviventes com os ventos gelados que roubam calor com facilidade.
IGLU DE NEVE
É cômoda, porém de difícil construção. Apresenta
maior possibilidade de intoxicação por monóxido de carbono, proveniente da
fonte de calor, do que a trincheira, mas pode ser viável para o sobrevivente
que não dispuser de nenhum equipamento. Consiste em amontoar a neve em um raio
de dois metros de forma que se construa um pequeno monte e a partir daí cava-se
no interior até formar uma caverna, a neve não
cairá ou pode ser aproveitada uma pequena elevação de neve para este tipo de
abrigo.
IGLU
Na
eventualidade de uma sobrevivência prolongada no gelo, deve-se buscar um abrigo
de construção mais sólida, como por
exemplo o iglu.
Para sua confecção são
necessários blocos de gelo com medidas aproximadamente de 50 cm x 30 cm x 30
cm.
A forração do local onde for
deitar é importante para que a neve não derreta sob o corpo. Em qualquer abrigo
deve-se acender uma vela, ou outra fonte de calor, de forma a manter a
temperatura no abrigo próxima a 0 (zero) grau e o teto deve ser bem liso para
evitar que a neve derretida fique gotejando.
FOGO
Os
únicos combustíveis inflamáveis numa sobrevivência no gelo são os provenientes
da própria aeronave, querosene e óleos, e as gorduras de origem animal.
Para
promover fogo em gordura de origem animal, deve-se depositá-la em um recipiente
como, Jarra, baldes de gelo, etc..., utilizando um pavio para acendê-la. A
chama proveniente da queima deste combustível é muito brilhante e pode ser
avistada a grandes distâncias.
ÁGUA
Há
duas maneiras de se obter água numa sobrevivência em regiões geladas:
01- derretendo-se o gelo, tendo o cuidado de não utilizar
aquele proveniente de áreas onde haja colônias de pingüins ou concentração de
outros animais devido as bactérias.
02- colhendo-se água de fonte natural oriunda do degelo, cujo
curso sob camadas livres de gelo, muitas vezes pode-se ouvir.
Especial
atenção deve ser dada a ingestão indiscriminada de gelo pelo sobrevivente,
pois, isto o levará a um quadro de hipotermia. A água em regiões geladas são
melhor aproveitadas quando tomadas em forma de chás ou café, derretendo
caramelos ou simplesmente aquecendo a água.
ALIMENTO
Excetuando-se
todo alimento que estiver disponível no interior da aeronave, e que deverá ser
retirado, nas regiões polares a alimentação se limitará aos alimentos de origem
animal: focas, leões marinhos, aves, peixes e demais animais marinhos, sendo
que, provavelmente as focas serão a principal fonte.
Somente em último caso se deve
ingerir a carne de pingüins, pois muito comumente está contaminada por vermes.
No
caso de regiões continentais geladas (cordilheiras), cuja localização é
afastada do mar a alimentação pode se basear além dos mantimentos encontrados
na aeronave, nos animais de caça e possíveis roedores como esquilos, devem ser
observados os buracos em árvores.
CUIDADOS
NO GELO
ENVENENAMENTO POR MONÓXIDO DE CARBONO
A
queima de velas, lamparinas etc..., no interior dos abrigos promove a liberação
de monóxido de carbono (gás altamente tóxico e explosivo). A fim de evitar o excesso de sua concentração e consequentemente
o envenenamento dos sobreviventes no abrigo, deve-se manter uma ventilação
adequada no seu interior.
CONGELAMENTO
Os
congelamentos a nível epitelial podem ser basicamente, classificados em três
grupos, a saber:
1° Grau: arrepios não são perigosos servem como primeiro sinal.
2° Grau: Flictenas (ou bolhas) indicam o processo de
queimaduras no tecido
3° Grau.: Necrose - Gangrenas ou manchas escuras na pele indicam uma diminuição muito
grande do fluxo sangüíneo para a região e sua provável amputação.
Qualquer sensação de amortecimento ou anestesiamento
(dormência) deve ser encarado como prenúncio de congelamento. O frio intenso
também pode ocasionar o estado de choque e perda da razão, devido ao
estreitamento dos vasos sanguíneos pela hipotermia, ficando o individuo em
estado letárgico. Deve o sobrevivente, neste caso, ser tratado a base de banhos
de imersão iniciando-se o tratamento com água fria e, aos poucos aquecendo-a
(tratamento muito dificil de ser executado sob as condições encontradas na sobrevivência).
IMPORTANTE:
o congelamento nunca deverá ser tratado através de fricção. Desta maneira ao
invés de apresentar melhoras no quadro clínico a vítima teria sua situação
agravada.
O congelamento inicial da face pode ser tratado
colocando-se as mãos quentes sobre a mesma. O congelamento dos dedos pode ser
resolvido colocando-se as mãos sob as axilas ou dentro das calças.
Caso haja um principio de
congelamento dos pés o melhor a fazer é coloca-los dentro das vestimentas de
outro sobrevivente, caso não disponha de meios mais apropriados como os descritos anteriormente.
Quando
se estiver desenvolvendo esforço físico, deve-se evitar ao máximo a
transpiração, pois quando cessar
a atividade o suor se concentra rapidamente, causando a hipotermia. Por esta
razão deve-se retirar paulatinamente as peças de roupa de modo a não manter a
temperatura do corpo excessivamente alta. Ao se retirar uma peça de roupa deve-se
cuidar para que seja bem protegida a fim de não ficar úmida ou molhada.
Encerrando-se a atividade física as peças devem ser revestidas gradualmente, de
modo a ser mantida a temperatura
normal do corpo.
CEGUEIRA
Não há uma adaptação natural da visão aos reflexos
solares na neve, no gelo e na água. Os raios infravermelhos provocam fadiga
ótica e dor intensa, portanto trate de proteger os olhos com óculos escuros ou
confeccione viseiras de cascas de pinheiro ou simplesmente de pedaços de
plástico ou outro matérial, contanto que diminua a quantidade de luz que
penetra no globo ocular, este procedimento é recomendado pelo batalhão de
sobrevivência no gelo da Suécia, ou abrigando-se em lugares pouco iluminados ao
primeiro sinal de dor ocular.
EDEMA CEREBRAL
É o acumulo de fluidos no cérebro
provocado pela altitude elevada.
EDEMA PULMONAR
É o acúmulo de fluidos no interior
dos pulmões, provocado pelas grandes altitudes, só sendo curada se a vítima
reduzir a altitude ou com a aplicação de algumas drogas específicas.
AÇÃO DOS VENTOS E
A HIPOTERMIA
0 nosso corpo transforma a energia dos alimentos
para manter sua temperatura. Em regiões geladas este gasto energético é
aumentado; 0 vento aumenta ainda mais a perda de calor e consequente sensação
de frio, ao dispersar as camadas de ar aquecido existentes entre a roupa e a
pele.
Esta dispersão é proporcional a velocidade do vento.
Para se reduzir este problema, os sobreviventes devem se proteger do vento,
valendo-se de anteparos (cavernas, os abrigos provisórios, etc...) ou qualquer
meio de minimizar a ação eólica dos ventos.
EFEITOS DO FRIO NO CORPO
Temperatura corporal em °C
|
Sinais e sintomas
|
36-38
|
Normal
|
30
|
Perda de consciência
|
29
|
Estado irreversível
|
20
|
Parada cárdio respiratória
|
HIPOXIA
Deficiência de oxigênio devido ao
ar rarefeito das grandes altitudes, neste caso seria recomendado a
oxigenoterapia se possível for, este equipamento está disponível nos bins ou
porta bagagem em dois ou mais cilindros.
MAL AGUDO DE
MONTANHA
Sintomas decorrentes da não adaptação ao ar rarefeito da altitudes,
podendo aparecer dores de cabeça, náuseas, vômitos, falta de apetite, lassidão,
insônia e outros. Como em todos
os ambientes de sobrevivência o ser humano necessita ambientar-se, mas se esta
adaptação for as grandes altitudes poderá desenvolver edema cerebral e pulmonar
e morrer. Estando uma pessoa nesta situação deverá realizar uma respiração
forçada, provocando assim a saída do dióxido de carbono.
GRETAS (ou
fendas)
São fendas encobertas de neve e se
constitui um perigo potencial para quem caminha sobre o gelo. Sua formação se
deve a acomodação de camadas de neve e gelo em trechos de relevo irregular.
Os deslocamentos somente deverão
acontecer quando todos os elementos estiverem amarrados entre si e, o primeiro
homem (homem-guia) for capaz de vistoriar o solo com um bastão (ou similar) a
fim de detectar as gretas existentes.
URSOS POLARES
Não
muito freqüentes em diversas regiões, devemos considerar a possibilidade do
encontro com este predador e ter alguns cuidados, visto que é um animal
carnívoro e possuidor de um grande faro, podendo perceber um intruso a uma
distância que impossibilite a fuga do mesmo.
Estando
o acampamento montado, não deixe lixo descoberto, enterre todo resto de
detritos e panos ensangüentados, pois isto atrai o nosso amigo urso de garras
apontadas em posição de ataque dando urros para intimidar sua presa, como
podemos constatar em diversos artigos da guarda florestal canadense. A presença
de fogo pode atrair sua atenção, mas o afastará do acampamento. Mesmo para
fazer suas necessidades como na selva o sobrevivente não deve ir sozinho, além
de ficar atento.
todas as fotos foram tiradas pelo autor a bordo de um vôo da lanchile
Paulo Gabriel b. de Melo - membro do serviço de busca e resgate desde 1990
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