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terça-feira, 5 de agosto de 2014

TEMA: AVIAÇÃO - SOBREVIVÊNCIA NO GELO

SOBREVIVÊNCIA NO GELO - A CORDILHEIRA ANDINA
           Muitas são as áreas geladas do planeta, em todo continente que passamos é possível encontrar montanhas geladas, em um segundo se está voando com glamour e noutro percebe-se a iminência de uma sobrevivência.   (sgt Fábio ao ter uma forte turbulência nas cordilheiras nu avião comercial)


 


INTRODUÇÃO

Como podemos ver no filme “Sol da meia noite”, o sol durante meses desaparece atrás da linha do horizonte aumentando a intensidade de luz sobre a retina e causando inflamações, sendo menos graves do que o inverno, quando ele nunca aparece, e os fatores como : hipotermia, congelamento e outros serão muito agravados, como foi constatado por inúmeras expedições algumas delas ocorreram em uma época que não havia a tecnologia a favor do homem, transformando-a em um fato heróico.
Nas calotas polares da Antártida e do Ártico, ou em qualquer outra região gelada como Sibéria ou os Andes no Chile, o homem sente-se frágil e pequeno e se este for oriundo de um acidente aéreo, ainda sentirá que é o mais azarado. Em momentos, tudo pode se transformar num inferno branco de ventos furiosos, avalanches que chegam a soterrar até cem metros e em alta velocidade, não dando tempo para reagir; horas depois, pode-se sentir em pleno paraíso, cercado de animais.
O gelo e o frio foram os principais fatores que fizeram do Ártico e da Antártida, as últimas regiões exploradas pelo homem. A descoberta e a colonização das áreas geladas são ainda hoje, desafios a sobrevivência humana, apesar das bases de diversos países com interesse científico nos pólos, como é o caso da estação Comandante Ferraz (mantida pelo Brasil na Antártida) que cientificamente muito tem contribuído para o desenvolvimento de uma nova tecnologia onde sobreviver é possível.
           Temperaturas muito baixas, escassez de alimento e, principalmente, a ação dos ventos, fazem com que o homem, caso não conheça algumas noções básicas de sobrevivên­cia, tenha uma sobrevida muito pequena; para se ter uma idéia do perigo dos ventos uma pessoa bem agasalhada a –29°C, corre poucos riscos, mas acrescente um vento de 40 km/h e teremos uma temperatura relativa de –66°C fazendo congelar partes expostas em menos de trinta segundos. Os heróis mundiais do gelo são relatados nos livros de Amyr Klink, e concordo plenamente com ele, são Amundsen que ganhou até um nome de mar (mar de Amundsen ) e o capitão Shackeleton, que possui em seu acervo a mais fantástica história de resgate em ambientes gelados, e o britânico Roberto Falcon Scott que apesar de não obter tanto êxito entra como um dos desbravadores do gelo pela sua coragem.

ORIENTAÇÕES BÁSICAS


A maior quantidade possível de roupas deve ser mantida, para evitar a hipotermia. A manutenção da tempera­tura do corpo é um dos maiores segredos para o êxito numa sobrevivência no gelo. As ex­tremidades dos pés, mãos, orelhas, cabeça, nariz, mucosas e face devem ser muito bem protegidas ou poderão necrosar.
Um pouso em regiões geladas pode acontecer sobre uma camada espessa de gelo continental, suficientemente forte para suportar o peso da aeronave (ICE-SHELF) ou sobre uma camada de gelo mais fina, que se forma sobre o mar e cuja resistência é limitada (PACK-ICE), esta camada se quebra pela ação de ventos e marés, ou ainda, pelos navios quebra-gelo, dificultando ainda mais a situação.


AÇÕES IMEDIATAS:
As ações imediatas, são idênticas em qualquer sobrevivência de solo, primeiro afastar da aeronave e esperar dez minutos levando consigo o máximo de pessoas, pois segundo as normas vigentes o tempo ideal de evacuação são de noventa segundos, depois deve-se efetuar a prestação de socorro as vítimas, e o acionamento do radiofarol de emergência. Importante lembrar que os glânulos de silica-gel devem ser utilizados na sua finalidade anti-congelante para o aciona­mento do radiofarol de emergência (Beacon) modelo RESCUE 99 ou outro similar, visto que a maioria dos rádios são ativados com líquidos, no gelo ele logo pararia de funcionar pois o líquido congelaria, não fosse a ação anti-congelante da sílica gel, lembrem-se que o rádio de emergência é o passaporte para voltar a civilização, toda prioridade deve ser dada para este equipamento devido a sua importância para encontrar e resgatar  os sobreviventes.

AÇÕES SUBSEQUENTES:

Deve-se providenciar abrigo imediatamente após o acionamento dos radiofaróis de emergência, pois, inclusive a eficiência na prestação de primeiros socorros poderá depender deste fator. Seria muito difícil sobreviver no gelo sem abrigo e calor; o ser humano resistiria poucas horas, somente. Por isso, tão logo quanto possível, um tripulante deverá coordenar a construção de um abrigo e no seu interior acender um foco de fogo com uma pequena abertura para permitir a troca dos gases venenosos da queima.

ABRIGOS

Deve-se avaliar a área ao redor da aeronave para determinar o local mais adequado a construção do abrigo, considerando a disponibilidade de água e alimento. O interior da ae­ronave não deverá ser utilizado como abrigo, as superfícies metálicas são excelentes condutoras e um simples toque com as mãos sem proteção faria com que ficasse grudada e ao tentar tira-la  pedaços de pele ficariam presas no metal. Entretanto no interior as forrações  poderão ser utilizados para a confecção de um abrigo.
Deve-se ter cuidado especial ao manusear partes metálicas da aeronave que não estejam pintadas, porque em contato direto com a pele, poderão causar lesões irreversíveis, serão como lâminas cortantes.
           Escorregadeiras e barcos salva-vidas também poderão servir como abrigos, desde que devidamente fixados sobre o gelo. É importante  ter certeza que o abrigo será construído sobre blocos de gelos sólidos, distante de fendas ou mar aberto.
          Dentre os diversos tipos de abrigo que podem ser construídos, a unidade de sobrevivência no gelo da Suécia, esquadrão especializado em sobrevivência  nos ambientes gelados indicam dentre eles:

TRINCHEIRA
Pode ser construída rapidamente e proporciona uma proteção eficiente devendo-se cuidar para que a entrada não se localize na mesma direção do vento. Para a cobertura da trinchei­ra pode-se utilizar toldos, escorregadeiras pedaços de fuselagem ou blocos de neve forman­do um V invertido, a maior finalidade da trincheira é evitar o contato dos sobreviventes com os ventos gelados que roubam calor com facilidade.


IGLU DE NEVE

É cômoda, porém de difícil construção. Apresenta maior possibilidade de intoxicação por monóxido de carbono, proveniente da fonte de calor, do que a trincheira, mas pode ser viável para o sobrevivente que não dispuser de nenhum equipamento. Consiste em amontoar a neve em um raio de dois metros de forma que se construa um pequeno monte e a partir daí cava-se no interior até formar uma caverna, a neve não cairá ou pode ser aproveitada uma pequena elevação de neve para este tipo de abrigo.

IGLU
Na eventualidade de uma sobrevivência prolongada no gelo, deve-se buscar um abri­go de construção mais sólida, como por  exemplo o iglu.
Para sua confecção são necessários blocos de gelo com medidas aproximadamente de 50 cm x 30 cm x 30 cm.
A forração do local onde for deitar é importante para que a neve não derreta sob o corpo. Em qualquer abrigo deve-se acender uma vela, ou outra fonte de calor, de forma a manter a temperatura no abrigo próxima a 0 (zero) grau e o teto deve ser bem liso para evitar que a neve derretida fique gotejando.

FOGO

Os únicos combustíveis inflamáveis numa sobrevivência no gelo são os provenientes da própria aeronave, querosene e óleos, e as gorduras de origem animal.
Para promover fogo em gordura de origem animal, deve-se depositá-la em um reci­piente como, Jarra, baldes de gelo, etc..., utilizando um pavio para acendê-la. A chama proveniente da queima deste combustível é muito brilhante e pode ser avistada a grandes distâncias.

ÁGUA

Há duas maneiras de se obter água numa sobrevivência em regiões geladas:
01- derretendo-se o gelo, tendo o cuidado de não utilizar aquele proveniente de áreas onde haja colônias de pingüins ou concentração de outros animais devido as bactérias.
02- colhendo-se água de fonte natural oriunda do degelo, cujo curso sob camadas livres de gelo, muitas vezes pode-se ouvir.
                  Especial atenção deve ser dada a ingestão indiscriminada de gelo pelo sobrevivente, pois, isto o levará a um quadro de hipotermia. A água em regiões geladas são melhor aproveitadas quando tomadas em forma de chás ou café, derretendo caramelos ou simplesmente aquecendo a água.

ALIMENTO


Excetuando-se todo alimento que estiver disponível no interior da aeronave, e que deverá ser retirado, nas regiões polares a alimentação se limitará aos alimentos de origem animal: focas, leões marinhos, aves, peixes e demais animais marinhos, sendo que, prova­velmente as focas serão a principal fonte.
Somente em último caso se deve ingerir a carne de pingüins, pois muito comumente está contaminada por vermes.
No caso de regiões continentais geladas (cordilheiras), cuja localização é afastada do mar a alimentação pode se basear além dos mantimentos encontrados na aeronave, nos ani­mais de caça e possíveis roedores como esquilos, devem ser observados os buracos em árvores.

CUIDADOS NO GELO


ENVENENAMENTO POR MONÓXIDO DE CARBONO
A queima de velas, lamparinas etc..., no interior dos abrigos promove a liberação de monóxido de carbono (gás altamente tóxico e explosivo). A fim de evitar o excesso de sua concentra­ção e consequentemente o envenenamento dos sobreviventes no abrigo, deve-se manter uma ventilação adequada no seu interior.

CONGELAMENTO
Os congelamentos a nível epitelial podem ser basicamente, classificados em três gru­pos, a saber:
1° Grau: arrepios não são perigosos servem como primeiro sinal.
2° Grau: Flictenas (ou bolhas) indicam o processo de queimaduras no tecido
3° Grau.: Necrose - Gangrenas ou manchas  escuras na pele indicam uma diminuição muito grande do fluxo sangüíneo para a região e sua provável amputação.
Qualquer sensação de amortecimento ou anestesiamento (dormência) deve ser enca­rado como prenúncio de congelamento. O frio intenso também pode ocasionar o estado de choque e perda da razão, devido ao estreitamento dos vasos sanguíneos pela hipotermia, ficando o individuo em estado letárgico. Deve o sobrevivente, neste caso, ser tratado a base de banhos de imersão iniciando-se o tratamento com água fria e, aos poucos aquecendo-a (tratamento muito dificil de ser executado sob as condições encontradas na sobrevivência).
IMPORTANTE: o congelamento nunca deverá ser tratado através de fricção. Desta maneira ao invés de apresentar melhoras no quadro clínico a vítima teria sua situação agravada.
O congelamento inicial da face pode ser tratado colocando-se as mãos quentes sobre a mesma. O congelamento dos dedos pode ser resolvido colocando-se as mãos sob as axilas ou dentro das calças.
Caso haja um principio de congelamento dos pés o melhor a fazer é coloca-los dentro das vestimentas de outro sobrevivente, caso não disponha de meios mais apropriados como os descritos anteriormente.
Quando se estiver desenvolvendo esforço físico, deve-se evitar ao máximo a transpiração, pois quando cessar a atividade o suor se concentra rapidamente, causando a hipotermia. Por esta razão deve-se retirar paulatinamente as peças de roupa de modo a não manter a temperatura do corpo excessivamente alta. Ao se retirar uma peça de roupa deve-­se cuidar para que seja bem protegida a fim de não ficar úmida ou molhada. Encerrando-se a atividade física as peças devem ser revestidas gradualmente, de modo a ser mantida a tempe­ratura normal do corpo.

CEGUEIRA
Não há uma adaptação natural da visão aos reflexos solares na neve, no gelo e na água. Os raios infravermelhos provocam fadiga ótica e dor intensa, portanto trate de proteger os olhos com óculos escuros ou confeccione viseiras de cascas de pinheiro ou simplesmente de pedaços de plástico ou outro matérial, contanto que diminua a quantidade de luz que penetra no globo ocular, este procedimento é recomendado pelo batalhão de sobrevivência no gelo da Suécia, ou abrigando-se em lugares pouco iluminados ao pri­meiro sinal de dor ocular.

EDEMA CEREBRAL
             É o acumulo de fluidos no cérebro provocado pela altitude elevada.

EDEMA PULMONAR
            É o acúmulo de fluidos no interior dos pulmões, provocado pelas grandes altitudes, só sendo curada se a vítima reduzir a altitude ou com a aplicação de algumas drogas específicas.
AÇÃO DOS VENTOS E A HIPOTERMIA
0 nosso corpo transforma a energia dos alimentos para manter sua temperatura. Em regiões geladas este gasto energético é aumentado; 0 vento aumenta ainda mais a perda de calor e consequente sensação de frio, ao dispersar as camadas de ar aquecido existentes entre a roupa e a pele.
Esta dispersão é proporcional a velocidade do vento. Para se reduzir este problema, os sobreviventes devem se proteger do vento, valendo-se de anteparos (cavernas, os abri­gos provisórios, etc...) ou qualquer meio de minimizar a ação eólica dos ventos.

EFEITOS DO FRIO NO CORPO
Temperatura corporal em °C
Sinais e sintomas
36-38
Normal
30
Perda de consciência
29
Estado irreversível
20
Parada cárdio respiratória

HIPOXIA
            Deficiência de oxigênio devido ao ar rarefeito das grandes altitudes, neste caso seria recomendado a oxigenoterapia se possível for, este equipamento está disponível nos bins ou porta bagagem em dois ou mais cilindros.

MAL AGUDO DE MONTANHA
          Sintomas decorrentes da não adaptação ao ar rarefeito da altitudes, podendo aparecer dores de cabeça, náuseas, vômitos, falta de apetite, lassidão, insônia e outros.           Como em todos os ambientes de sobrevivência o ser humano necessita ambientar-se, mas se esta adaptação for as grandes altitudes poderá desenvolver edema cerebral e pulmonar e morrer. Estando uma pessoa nesta situação deverá realizar uma respiração forçada, provocando assim a saída do dióxido de carbono.

GRETAS (ou fendas)
                 
            São fendas encobertas de neve e se constitui um perigo potencial para quem caminha sobre o gelo. Sua formação se deve a acomodação de camadas de neve e gelo em trechos de relevo irregular.
Os deslocamentos somente deverão acontecer quando todos os elementos estiverem amarrados entre si e, o primeiro homem (homem-guia) for capaz de vistoriar o solo com um bastão (ou similar) a fim de detectar as gretas existentes.

URSOS POLARES
            Não muito freqüentes em diversas regiões, devemos considerar a possibilidade do encontro com este predador e ter alguns cuidados, visto que é um animal carnívoro e possuidor de um grande faro, podendo perceber um intruso a uma distância que impossibilite a fuga do mesmo.

            Estando o acampamento montado, não deixe lixo descoberto, enterre todo resto de detritos e panos ensangüentados, pois isto atrai o nosso amigo urso de garras apontadas em posição de ataque dando urros para intimidar sua presa, como podemos constatar em diversos artigos da guarda florestal canadense. A presença de fogo pode atrair sua atenção, mas o afastará do acampamento. Mesmo para fazer suas necessidades como na selva o sobrevivente não deve ir sozinho, além de ficar atento.





todas as fotos foram tiradas pelo autor a bordo de um vôo da lanchile

Paulo Gabriel b. de Melo - membro do serviço de busca e resgate desde 1990

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