ACIDENTE DO GOL VÔO 1907
Estava de férias quando ocorreu, mas sabendo da dimensão do
acidente sabia que não havia especialistas em resgate SAR (SEARCH AND RESCUE)
liguei para o comandante e pedi que suspendesse minhas férias pois queria
ajudar nas buscas e resgate de supostas vítimas ou corpos. Fomos deslocados
para Brasília e de lá para cachimbo de avião C-130 Hércules. Ao chegar vi uma
verdadeira operação de guerra com mais de 25 aviões, dentre eles aviões de
caça, e até me perguntei qual seria a missão desses caças já que era uma
operação de resgate, e logo descobri que a serra do Cachimbo virara palco de um
cenário de horror, diversas emissoras de televisão fretavam aviões e
helicópteros para sobrevoar a área, era então que decolavam os caças para
expulsá-los, um vez que o espaço aéreo fora declarado restrito, uma torre de
controle com radares e especialistas também foram deslocados para lá, dezenas
de barracas de campanha para atender aos especialistas em resgate que
adentravam a mata em busca de corpos e voltavam com picadas de abelhas e cobra,
um deles levou tantas picadas que desenvolveu uma reação alérgica e foi para
UTI, helicópteros levavam comida para as diversas clareiras que estavam abertas
na mata e onde eram concentrados os corpos, de lá saiam de helicóptero até a
fazenda Jarinã, e que seja digno de louvor o seu gerente matou vários bois para
alimentar a tropa das forças armadas que estavam no loca, depois chegaram containers de comida e tudo fluía em uma
grande guerra, foi sem dúvida a maior operação de resgate na selva feita em um
lugar remoto, onde tudo só chegava de helicóptero, estavam comandando a
operação o Brigadeiro do Ar Kerson e um dos diretores da GOL. A logística para
essa operação era algo nunca visto, um caminhão frigorífico da fazenda foi
usado para receber os corpos que eram levados ao IML de Brasília em grandes
aviões dentro de piscinas com gelo.
Saí de cachimbo quando o último corpo foi encontrado quatro
meses depois, um advogado de Brasília e até hoje sinto em meu coração a satisfação
do dever cumprido... não deixamos ninguém para trás. Apesar do cansaço e
desgaste psicológico da operação muito aprendemos, todos os setores envolvidos,
mas esse acidente é algo que peço a Deus que nunca mais volte a acontecer.
Ganhei como muitos companheiros duas medalhas uma na Força Aérea e outra no
Exército Brasileiro, as quais guardo com carinho.
Dentro da maior parte de fuselagem do avião estavam pessoas
mortas de mãos dadas, lembrando que o ser humano é igual em sua dor e na hora
da morte, muitos corpos estavam em cima das árvores que a medida que desintegrava
caia aos pedaços, todos os setores trabalhavam exaustivamente para cumprir cada
qual sua missão.
Aos familiares restou ao menos o consolo de poder velar seus
entes queridos, e a nós a certeza do dever cumprido.
"Busca- Para que outros possam viver"
Paulo Gabriel B. Melo - Especialista em Resgate SAR da FAB
desde 1990.
Se algum parente de vítimas quiser comentar ou algum de vocês quiser saber mais pode perguntar que darei a resposta aqui mesmo, embora sei que para muitos ainda é uma ferida aberta, para vocês que Deus os console e minhas condolências.
ResponderExcluirEu trabalhei pouco tempo (3 anos) na Tam, mas foi tempo suficiente para vivenciar 2 dos acidentes aéreos mais grave da aviação comercial brasileira, esse da Gol e o o da Tam (em São Paulo); além de enfrentarmos um dos piores, se não o pior, caos aéreo da nossa aviação. Foi um período muito, mas muito difícil, confesso que eu não estava preparada (psicologicamente) pra isso. Mas será que alguém estava??? Me lembro muito bem do dia de cada um desses acidentes. No dia do acidente da Gol estávamos (meu esposo, eu e aluns amigos - todos meus colegas de trabalho, dentre eles o gerente e um supervisor da Tam, na época) na Feira Central quando soubemos do acorrido, acabou a diversão na hora, tanto pela gravidade da trajédia, como pela solidariedade aos nossos colegas de cia. Num momento como esse não há distinção de cia, somos todos da aviação e sentimos igualmente.
ResponderExcluirNo dia do acidente da Tam, em São Paulo, foi muito estranho. No final da tarde, começou a fechar o tempo, formou um temporal muito feio, estávamos vivendo um período conturbado na aviação comercial, as obras no Aeroporto de Congonhas afetaram todos os outros aeroportos, voos lotados, cancelados, overbooking, passageiros irritadíssimos, funcionários sob pressão, até apanhando de passageiro! Enfim, foi um dia marcante. Por causa de todos esses problemas eu fiquei trabalhando até mais tarde, de repente o dia virou noite, houve até um apagão no aeroporto em CGR (Campo Grande), ficamos todos no escuro por algum tempo, realmente amedrontador. Antes que eu fosse embora chegou a notícia do acidente, parecia mentira, estava difícil de "cair a ficha"...
Pensar que, além de toda a trajédia em si, de quase 200 pessoas mortas que estavam a bordo, tinham mais tantos outros colegas (os que estavam no prédio da Tam Cargas) que morreram trabalhando. Foi muito triste tb...
Como vc, meu amigo Gabriel, é um Psicopedagogo deve imaginar o que situações como essas podem causar no psicológico das pessoas, mas falando em especial dos profissionais da aviação (no caso, comercial). Todo mundo se manteve firme durante aquele período para que tudo se reerguesse e voltasse ao "normal", mas depois de um tempo, muitos funcionários precisaram se afastar para tratar de transtornos psicológicos, sendo o mais comum a DEPRESSÃO. Só na base da cia em CGR foram umas 5 pessoas, nas quais me incluo.
Mas somente Deus mesmo para curar todas essas feridas pq nós, sozinhos, não seríamos capazes.
É verdade minha amiga, não tem como se preparar para uma tragédia, mas nos fez refletir e até mudar muitos procedimentos operacionais, existem feridas que só o tempo e Deus é capaz de curar, obrigado por compartilhar também a sua dor, espero que nunca mais aconteça e que vc se recupere, posso imaginar o tamanho do trauma coletivo que um acidente desse porte faz. Espero que tenha uma vida feliz.
Excluir